O Vice-Presidente da República, Bornito de Sousa, defendeu esta segunda-feira, no Cuito (Bié), que o desenvolvimento do país passa pela formação de recursos humanos capazes e competentes, conjugando a formação superior de qualidade com a profissional, empreendedorismo e a valorização salarial dos quadros com formações não universitárias. Tem toda a razão. Pena é que, apesar de estar no governo há 43 anos, o MPLA ainda não tenha implementado o essencial, apostando sempre no acessório – o primado da bajulação.
Estes desafios fundamentais há décadas para o desenvolvimento de Angola, segundo o Vice-Presidente, devem ser resolvidos no quadro geral das limitações financeiras que o país vive (mas que não viveu durante… décadas), nos quais se devem priorizar igualmente as formações técnicas, tecnológicas e profissionalizantes, além da empregabilidade dos cursos.
O governante discursava no acto central do dia do Fundador da Nação e do Herói Nacional (do MPLA), que se assinalou hoje, em representação do Presidente da República, João Lourenço, cujas celebrações decorrem sob lema: Liberdade, Educação e Desenvolvimento.
Em relação às políticas que concorrem para o desenvolvimento e melhoria da vida população, Bornito de Sousa destacou os benefícios que vão trazer o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) 2018/2022, que contém 82 programas de acção, 25 políticas estratégicas e seis eixos de intervenção, que vai melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Relativamente aos eixos, enfatizou o desenvolvimento humano e bem-estar, desenvolvimento económico sustentável e inclusivo, infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento, consolidação da paz, reforço do estado democrático e de direito, boa governação, desenvolvimento harmonioso do território, garantia da estabilidade e integridade territorial, assim como do reforço do seu papel no contexto internacional e regional.
O Vice-presidente entende que a formação do homem, através da assumpção da educação e do ensino de qualidade, como fundamento do desenvolvimento sustentável de Angola, é inegável e, aprová-lo, estão os exemplos de países sem recursos minerais que se desenvolveram exponencialmente em curto espaço de tempo.
Bornito de Sousa assegurou que persistem esforços no sentido de se aumentar o efectivo de corpo docente, a criação de um centro de excelência de formação e reciclagem de professores no magistério Mutu-ya-kevela, em Luanda, e adopção de medidas no sentido de maior dignificação do estatuto de carreira docente dos vários domínios de ensino.
Bornito de Sousa falou também das mudanças políticas e geracional que decorrem em Angola, destacando que o mundo está a acompanhar com atenção e admiração uma transição política pacífica, democrática e exemplar, com efeitos nos domínios político-partidário e político-institucional, judicial, económico, social e diplomático, na qual ocupa uma posição central o Presidente João Lourenço. Embora tenha tentado, o vice-Presidente não conseguiu resistir a mostrar também o seu quinhão de bajulação ao… “querido líder”.
Confundindo sinais com obra feita, intenções com factos, sintomas com cura, Bornito de Sousa reiterou maior abertura ao exercício das liberdades constitucionais, de que a extensão da emissora Católica de Angola (Rádio Eclésia), a todo território nacional, a liberdade de imprensa, o exercício pacífico, legal e ordeiro do direito de manifestação e a perspectiva de alargamento de participação política às autarquias locais.
Porém, denunciou que o exercício da liberdade constitucional é incompatível com determinadas práticas a que ultimamente se assiste, como sejam o roubo ou a destruição gratuita de bens públicos, nomeadamente, cabos eléctricos, painéis solares, equipamentos solares, hospitalares e urbanos, ocupação ilegal de terreno, construção não autorizada, auxílio à imigração ilegal, exportação ilegal de combustíveis, uso abusivo de meios de comunicação social e outras práticas prejudicais ao bem comum.
Com um pouco mais de embalo, Bornito de Sousa tenderia a advogar a ditadura ou, talvez, a autocracia que nos caracterizou e na qual se formou, tal como João Lourenço.
Em função disso, desencorajou tais práticas e recomendou o exercício da autoridade para fazer cumprir a lei quando aplicável. Os bens públicos são para ser protegidos por todos, daí que a população tem de ser vigilante e denunciar estas acções para que os sues promotores ou patrocinadores sejam responsabilizados.
Bornito de Sousa defendeu igualmente a necessidade de se assegurar os projectos conseguidos no domínio das infra-estruturas em área como a saúde, educação, vias de comunicação e transportes públicos, para que não regridam.
E se, até esta altura, Bornito de Sousa conseguiu manter-se de pé e mostrar, para além de alguma clareza de raciocínio, verticalidade de formação, estatelou-se ao comprido na cama do MPLA quando resolveu (que remédio!) fazer as louvaminhas ao primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, que – segundo a ébria cartilha do partido – dedicou toda a sua vida à causa da liberdade e dignidade dos angolanos, da independência nacional e da solidariedade internacional.
Enquanto médico, referiu Bornito de Sousa, Neto dedicou todo seu saber à saúde, reservando período específicos para atender gratuitamente aos doentes com menos posses e mais vulneráveis.
Para Bornito de Sousa, o político Agostinho Neto, que nasceu há 96 anos, considerava como sendo o mais importante “resolver os problemas do povo”, célebre slogan que se mantém em plena actualidade. Mantém-se sim senhor. E mantém porque, 43 anos depois (16 de paz total) o povo continua sem ver os seis problemas resolvidos, continua a ser gerado com fome, a nascer com fome e a morrer, pouco depois, com fome. Estão aí 20 milhões de pobres que o comprovam.
Como estadista, entende Bornito de Sousa, a personalidade de Agostinho Neto projectou-se pelo mundo e pelas mais relevantes instituições regionais e internacionais. Mas o maior legado de Agostinho Neto ao Povo angolano foi a proclamação, a 11 de Novembro de 1975, da independência Nacional.
Independência essa, deveria ter dito Bornito de Sousa – caso fosse um político intelectualmente sério – que também foi proclama nesse dia, no Huambo, por Jonas Savimbi e Holden Roberto. Mas pedir isso a um político do MPLA só será possível quando alguém descobrir como é possível escrever em português sem utilizar vogais.
Folha 8 com Angop